domingo, janeiro 28, 2007

Um licenciamento muito excepcional

Um licenciamento muio excepcional

Excesso de área foi ignorado pelo então vice-presidente.
Piscina está ilegal.
Técnico municipal fez projecto


O projecto de arquitectura apresentado pela Montiterras para a moradia do Penteado, em Fevereiro de 2000, foi aprovado em 29 dias, apesar das objecções dos serviços, e a licença de construção foi deferida 43 dias depois. Tudo isto com a assinatura do então vice-presidente e actual pre­sidente da Câmara da Moita, João Lobo.
O projecto era tudo menos banal, tanto mais que incidia sobre uma área exterior ao pe­rímetro urbano, para a qual não estava aprovado nenhum loteamento, e apresentava uma área de construção su­perior em 39 m2 ao máximo de 400 m2 permitido pelo PDM. O primeiro despacho de João Lobo, datado de 13 de Março, mandava o processo para trás, para serem corri­gidos dois aspectos menores apontados no parecer dos seus serviços, mas nada dizia sobre o excesso de área.
Mesmo assim, sem explica­ções, ou quaisquer pareceres em que se apoiasse, o autarca revogou dois dias depois es­se seu despacho e deferiu o projecto, admitindo que as correcções exigidas fossem apresentadas posteriormen­te. Subscrito pelo arquitecto António Dores, que fazia parte dos quadros da vizinha Câmara do Montijo, onde exercera cargos dirigentes até 1998, quando o PCP ali tinha a maioria, o projecto contemplava oito quartos, várias salas de estar e de serviço, escritório, diversas casas de banho, um pátio central coberto e uma zona de convívio, distribuídos por dois pisos acima do solo e uma cave.
No dia 17 de Abril, Emídio Catum requereu a licença de construção antes de ter entre­gue a totalidade dos projectos de especialidade e justificou o pedido com "o facto de se encontrarem contratadas as equipas de execução da obra, pelo que o retardamento do início dos trabalhos provo­cará prejuízos de difícil re­paração para o requerente". Nesse mesmo dia, sem qual­quer parecer dos serviços, João Lobo deferiu o pedido, sendo a licença emitida a 27 e as obras iniciadas de imedia­to, mediante a apresentação do alvará do construtor e da apólice de seguro passados em nome da Montiterras.
Em Maio do ano seguinte, quando a empresa pediu a prorrogação da licença, um fiscal da câmara detectou vários situàções de incumpri­mento do projecto aprovado, incluindo a construção de uma piscina não licenciada. A informação do técnico, po­rém, foi ignorada e não mere­ceu qualquer despacho, como era obrigatório, por parte dos seus superiores.

Obra "em conformidade"
Nessa altura já Emídio Catum tinha entregue os projectos de alterações, também assi­nados por António Dores, ­mas estes, aprovados pouco depois, ignoravam a piscina em construção. Com a obra acabada desde Outubro de 2001, a licença de utilização foi requerida em Fevereiro de 2002, informando o mes­mo fiscal que "a obra estáconcluída em conformidade com o projecto de alterações" e esquecendo a piscina.
Por razões que o processo não esclarece, as telas finais (projectos em que consta exac­tamente aquilo que foi cons­truído) só foram apresentadas dois anos depois, tendo parte delas a assinatura de António Dores, então já requisitado à Câmara do Montijo e ao ser­viço do município da Moita, e por isso legalmente impedido de ali apresentar projectos. Segundo o próprio, que não esclarece a data em que foi para a Moita, essas telas, embora entregues pela Mon­titerras muito mais tarde, foram feitos por ele quando ainda estava no Montijo.
Seja como for, o fiscal in­formou em Abril de 2004 que estava tudo bem com as telas' finais, omitindo mais uma vez a piscina. E no mesmo dia, o responsável pela fis­calização de obras particu­lares, António Dores, propôs o deferimento da licença de utilização, coisa que aconte­ceu logo a seguir. A título de comparação, outro pedido de licenciamento da construção de uma moradia, entregue em Março de 2000 na Câmara da Moita e consultado ao acaso pelo PÚBLICO, levou dez meses a ser deferido. Acres­ce que, neste caso, em que arquitecturã só por si levou, três meses para ser aprova­da por João Lobo, a moradia correspondia a um projecto­tipo previamente aprovado no quadro do loteamento em que se inseria, em Sarilhos Pequenos.