terça-feira, setembro 11, 2007

Ao Beja

A Câmara Municipal da Moita editou em 1997 um livro: Moita do Ribatejo... um olhar sobre o tempo, da autoria de Manuel Luis de Jesus Beja.
No prefácio lê-se que esse livro “ ...é uma autêntica carta de amor à sua terra. Carta ingénua e apaixonada como são todas as cartas de amor: não lhe encontra defeitos, nem lhe faz reparos, apenas enaltece as suas virtudes e contempla-a demoradamente quando se veste e se pinta para a FESTA”.

Manuel Luis Beja foi também apaixonado pela Rádio.
Pelo Rádio Clube da Moita.
Temos na memória alguns dos seus programas, da sua voz.

Ouvindo esses programas, outro homenageado de hoje, José Casimiro Tavares escreve-lhe estes versos:

Meu caro Manuel, no outro dia
A tua voz surgiu lá no meu lar,
Na Rádio, e foi-me assim dado escutar
Um bonito poema, uma poesia!
E, como o escrever dá-me alegria,
Logo senti desejos de versar.

Louvar esse teu “Sonho” singular”,
Um hino d’amor, paz e harmonia!
Importa que te dia abertamente,
Sem sombra de nenhuma falsidade:

Bem mereces, amigo, estar contente!
E mais te vou dizer com amizade:
Já que tens de escrever, escreve sempre
Algo que traga luz à Humanidade.

Comovido, Manuel Luis dirige-se ao seu “MALOGRADO AMIGO”

Eu queria dirigir-lhe uma palavra...
Uma palavra de apreço e gratidão.
Que melhor, transcrever, da sua lavra,
Os versos que me fez? Oh, que lição!

Lição de indescritível humildade,
Que recebi honrado e enternecido;
Nem um laivo de inveja ou de vaidade!...
Meu caro, como estou agradecido!

O “Sonho” inspirador está bem presente
(Talvez por sua causa, tanto o admiro!)
E guardo-o com ternura em minha mente,
Bem junto ao seu poema, Casimiro!


Neste livro autêntico guião da MOITA RECONHECIDA, fala-se das suas gentes, e de quem, passando por aqui, deixou saudade.
Um exemplo, dedicou este soneto ao amigo que compreendia a Festa e o que ela representa para a Moita,

Pe. Fernando Belo - GRATIDÃO

A minha terra está agradecida
Ao Pastor generoso e indulgente.
Por isso e porque o quer eternamente,
Nem pode ouvir falar em despedida!

E se puder contar com a mão amiga
De quem a abençoa, ama e sente,
A Moita viverá bem mais contente,
Em harmonia, em paz e enriquecida.

Aceite, padre, a nossa gratidão
Pelas sementes de amor que aqui espalhou,
Com a nobreza dos homens de eleição.

Será que o Deus Senhor o enviou
P’ra iluminar a nossa escuridão?!
Se assim foi, creia padre, resultou!

A uma grande amiga, e também homenageada de hoje
– A Georgete Duarte A RECORDISTA

Mente sã, confiante na vitória,
Firme e atenta ao tiro de partida.
Descolava dos tacos decidida,
Em busca das medalhas e da glória!

Pulando uma barreira e outra barreira,
Gazela à solta a devorar o espaço,
Voava para a meta, em veloz passo,
Onde, orgulhosamente, era a primeira!

De graciosa e felina agilidade,
Desafiava a altura e o comprimento.
E com o peso, em infindável lançamento,
Rasgava os ares com rara velocidade.

Era assim, esta atleta de eleição!
De azul, a cor do céu, sempre vestida,
E a cruz de Cristo ao peito, bem cingida
Por sobre o triunfante coração!


Mas era na “FESTA” que ele mais se revia. Ouçam estes versos simples e comoventes:

A PROCISSÃO

Colchas nas varandas!
De tão lindas cores
Que fazem inveja!...
Despontam as bandas,
Rufando os tambores
De rumo à igreja!

Sai a procissão!...
Fiéis aos milhares
Aguardam de pé.
E há tanta emoção
Naqueles olhares
Repletos de fé!...

Bonitos andores,
Aos ombros, sem dor,
De humildes cristãos.
Arranjos de flores
Feitos com amor
Por fadadas mãos.

Pequenos anjinhos,
Hinos de candura,
Doces, inocentes...
Parecem pombinhos,
Espalhando ternura
Na alma dos crentes.

Depois, num repente,
A terra estremece!...
O fogo é sem conta!...
Há um mar de gente
Que quase ensurdece
Mas não e amedronta.

É Nossa Senhora
Ao cais a chegar,
Bela no seu manto!
Há gente que chora
Ao vê-la passar...
Mas é meigo o pranto.

Os barcos, vistosos,
Muito engalanados
Só p'rá'quela hora,
Com os arrais garbosos,
São abençoados
Pela Nossa Senhora.

Prossegue o cortejo.
Devagar...Sem pressas...
Aos poucos avança.
Sonha-se um desejo,
Pagam-se promessas,
Renova-se a esperança.

Já com o sol no adeus,
Se acendem as cores,
Luzes de esplendor!
Ao templo de Deus
Regressam os andores
Na paz do Senhor!


Obrigado Manuel Luis Beja